Acupe - Homenagem à Professora Luizinha | O Bom Do Acupe | Santo Amaro BA


Homenagem à Professora Luizinha


Conversando com o Senhor Espedito Argôlo, nascido e criado no Acupe, eu soube de uma história muito emocionante e cheia de gratidão por uma professora que fez parte da história da Família Argôlo.

Ele me contou que antigamente as professoras que lecionavam em Acupe, vinham de barcos de Salvador todos os dias.

Não importava a distância ou o mal tempo que fizessem essas "heroínas da educação" faltarem um dia sequer de aula. Era uma verdadeira demonstração de amor a profissão de educadora; mesmo com tantas outras dificuldades. Dentre essas professoras, ele destacou uma, que na verdade era muito mais que uma professora. Como ele mesmo a chamou:- "Ela era um anjo"; "Um anjo enviado por Deus!". Era a Professora Luizinha!

Ele lembrou que quando tinha uns dez anos, sua irmã Theodora Argôlo, foi vitima de uma doença grave: A “febre Tifo". Ela delirava bastante e tinha febre muito alta. Seu pai, Gonçalo Argôlo, muito preocupado, a levou a um médico em Santo Amaro. Quando lá chegou, o médico a examinou e logo disse a seu Gonçalo:

-O senhor pegue essa criança e retorne para sua casa... Não tem nada mais a ser feito!

Desenganando assim a menina. Seu Gonçalo pegou sua pequena Dora no colo e com o coração aos pedaços, retornou para casa em Acupe. Logo que chegou recebeu a visita da professora Luizinha, que veio em busca de notícias de sua aluna. Ela queria saber o que o médico de Santo Amaro havia dito e perguntou:

-E então seu Gonçalo, o que ele disse?

Com um nó na garganta e o peito sufocado pela tristeza, seu Gonçalo respondeu:

-O médico mandou que eu voltasse para casa... Ele desenganou minha filha!

Espantada a Professora Luizinha disse:

-Não pode ser!

Ela ficou um instante pensativa e depois falou:

-Seu Gonçalo, o senhor quer ir a Salvador buscar um remédio?

Com os olhos cheio de esperança, seu Gonçalo respondeu:

-Claro professora, eu vou!

A professora Luizinha estava sentada a beira da cama de Dora, e com carinho passava a mão na cabeça da frágil menina. Ela pegou um caderno e escreveu um bilhete. Depois disse:

-O senhor vai levar esse bilhete lá na Rua Joana Angélica no número "tal”. Eles vão dá ao senhor um remédio. O senhor tem que ser o mais rápido possível!

Imediatamente seu Gonçalo pegou seu Saveiro e zarpou em direção a Salvador. Assim que chegou ao porto foi logo para o endereço que a professora havia mandado e entregou o bilhete. Recebeu de volta uma caixa com várias ampolas de um remédio chamado "Voloquína Xavier". Seu Gonçalo retornou para Acupe o mais depressa possível. Quando chegou a casa encontrou a professora Luizinha acompanhada de seu Anjinho, um senhor que aplicava injeções em Acupe.

Seu Anjinho aplicou a medicação imediatamente na pequena Dora; Logo depois da primeira dose a menina reagiu abrindo os olhos bem devagarzinho e depois sorriu. Nesse instante a felicidade tomou conta de toda família, a alegria foi imensa. Pouco a pouco a menina foi se recuperando; Mas logo depois a doença fez mais uma vitima, dessa vez foi outro irmão de seu Espedito, Evilácio Argôlo. Ele começou com a febre muito alta e tinha muitas vezes delírios e convulsões, tinha que ser amarrado para que não se machucasse. E a professora orientou que fizesse o mesmo tratamento de Dora em Evilácio.

Além das injeções, as crianças só conseguiam se alimentar com laranjas, que seu Gonçalo mandava o menino Espedito buscar na fazenda de um tio, chamado tio Firmino; que muito preocupado, fazia questão de guardar as frutas para o tratamento das crianças. Infelizmente a febre também veio a contagiar Espedito; Mas lá estava à professora Luizinha, que também ajudou a cuidar dele, sem nunca demonstrar medo em ser contagiada pela doença. Assim esse "Anjo Bom”, com a ajuda de Deus, salvou essas crianças.

Seu Gonçalo, depois de recuperado da angustia de ver seus filhos doentes, retornou ao médico de Santo Amaro, com a menina Dora, para dizer que sua filha foi salva. No coração dele não tinha revolta, só gratidão.Entrando na sala do médico, com Dora andando, percebeu o espanto do médico; Seu Gonçalo disse:

-Aqui está minha pequena Dora... Quero agradecer. Se o senhor não tivesse mandado eu voltar para casa,Deus não poderia salvar minha filha usando um "Anjo Bom".Obrigado!

O médico emocionado ficou em silêncio.

Depois de alguns anos, Espedito, já adulto, retornou para Acupe e soube que a professora Luizinha havia se aposentado e que seu amor pelo Acupe a fez vim morar na cidade, casando-se com seu Arlindo Vieira, filho de dona Germana, ela não teve filhos, mas criou seus enteados com muito amor e carinho.

Sabendo que ela estava morando em um sobrado enfrente a casa dele, Espedito não poderia deixar de ir novamente agradecer aquela professora tão especial. Com o coração cheio de gratidão, Espedito foi lá, a casa dela. As lembranças vieram como uma brisa suave, refrescando a memória de Espedito. Uma professora carinhosa, educada, com uma voz baixa e suave, um sorriso manso. Sua aparência frágil escondia uma mulher forte e sábia. Quando Espedito finalmente encontrou a professora Luisinha, muita emoção preencheu aquele momento. Ela o recebeu com o mesmo sorriso singelo e um olhar carinhoso. Nada disse, mas não precisava falar, pois seus olhos já diziam tudo. Espedito, muito emocionado, conseguiu falar com a voz do coração:

-Professora Luizinha, muito obrigado! Deus não mandou a senhora para o Acupe apenas para ensinar as crianças a ler e escrever, ele mandou à senhora com a missão de salvar vidas! Abaixo de Deus à senhora é uma "Salvadora”. Nunca vamos esquecer. Muito obrigado!


Obra protegida por direitos autorais.


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9 Comentários:

Anônimo Comentou:

Olá! meu nome é Rui Argolo e adorei saber que posso recordar a minha infância vendo fotos do meu Acupe... sou filho de Edvaldo Argolo (ja falecido)bom saber que a Familia Argolo comtinua perpetuando seu nome com a nova geração... abraço! ruyoas@hotmail.com

André Felipe Ribeiro Argôlo Comentou:

Olá Rui,
Obrigado pela visita e comentário,
No que precisar estamos aqui!
Abraço!

Rosanna Ribeiro Comentou:

É com muita admiração que recebemos seu comentário. Desde já agradeço sua simpatia em acompanhar esse nosso trabalho de resgate a memoria e a tradição desse lugar que fez e faz parte da História da Família Argôlo. Você com certeza têm a grandeza e gentileza peculiar de meu tio Vadinho, do qual tive o prazer de conhecê-lo e admira-lo pelo seu caráter e simpatia, em algumas visitas ao Acupe. Obrigado em nome do Site obomdoacupe.com.
Rosanna Ribeiro
(Colunista e mãe de Felipe Argôlo)

LEA Comentou:

Olá, é com grande prazer que relembro minha infância neste lugar , pra mim sagrado. tenho muitos amigos nesse lugar, que moram em meu coração.sou tambem muito conhecida em acupe, por sempre fazer parte dos festejos como: micaretas, desfiles etc...
tive o imenso prazer de ser escolhida como rainha.Neta de dona Francisca, (já falecida)uma batalhadora, conhecedora da alma humana, me encinou viver. meus amigos só me conhecem como Lea.emfim maravilhosa materia, abraços e obrigada por tratar essa terrinha com o respeito merecido. até!

André Felipe Ribeiro Argôlo Comentou:

Olá LEA,
Que bom que gostou do texto, foi escrito por minha mãe, e contado por meu Avô, realmente ocorreu esta historia triste e emocionante, que meu avô sempre chora quando conta.
Obrigado pela visita. Fique à-vontade para matar a saudade, o site é do ACUPE!
Até!

Rosanna Ribeiro Comentou:

Olá Lea, obrigado por prestigiar nosso trabalho. É com muito carinho que recebo suas palavras, pois Acupe é um cantinho do Recôncavo rico de lembranças e histórias de um povo tão simpático e acolhedor.Seja bem vinda ao regresso de muitas lembranças boas do Acupe!
Beijos!

ViaNet Comentou:

Felipe, parabéns pela matéria com o tio Expedito. Me emocionei com a historia. Foi uma grata surpesa para mim constatar que você, tao jovem faz o bom uso dos novos recursos da computação que estão a nossa disposição. Lhe desejo sucesso.
Abs, Edimario (Mariozinho).

Anônimo Comentou:

Felipe, parabéns pela matéria com o tio Expedito. Me emocionei com a historia. Foi uma grata surpesa para mim constatar que você, tao jovem faz o bom uso dos novos recursos da computação que estão a nossa disposição. Lhe desejo sucesso.
Abs, Edimario (Mariozinho).

André Felipe Ribeiro Argôlo Comentou:

Mariozinho, obrigado pelos elogios, que bom que gostou!
Abraços!!!

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