Acupe - O Nego Fugido e sua Historia | O Bom Do Acupe | Santo Amaro BA

Nego Fugido e sua Historia


É realmente fascinante o que acontece no Acupe no mês de julho. O Acupe se transforma,em um imenso palco, com uma encenação fantástica e rica de cultura popular, jamais vista no Brasil.
- É o "Nego Fugido"!
As apresentações acontecem durante os domingos do mês de julho. É um verdadeiro espetáculo, transformando as ruas do Acupe em um grande teatro a céu aberto. São apresentações ricas de cultura e dramatização, que contam uma historia de perseguição, captura e libertação dos escravos fujões. O espetáculo tem em média 40 figurantes, que na verdade são pessoas comuns da comunidade, são pescadores, marisqueiras, comerciantes e donas de casa.

Os negros fujões, personagens centrais da apresentação, são chamados de "negas", e geralmente são dramatizados por crianças. Com os rostos pintados com uma mistura feita de óleo de comida e carvão moído, e na boca com um tom avermelhado, feito com papel crepom, representa o sangue e a dor dos negros escravos. Essa aparência, muitas vezes assusta aqueles que não estão acostumados com esse espetáculo.

Tem os caçadores, que são geralmente homens fortes e que conseguem executar os movimentos intensos da encenação. Eles usam saias feitas de palhas de folhas de bananeiras, para ajudar na camuflagem do ritual de captura dos negros nas matas. Nessa encenação, também tem figura do soldado, que representa a proteção do Rei. O Rei simboliza os senhores, donos dos engenhos e dos escravos em um ato dessa peça. Os negros cobram as cartas de alforria ao Rei.

A princesa Isabel é representada pela figura da "Fada Madrinha", Ela vem vestida de branco e trás um lenço branco amarado no punho. A "Fada Madrinha" representa o equilíbrio entre a guerra e a paz dos negros e brancos.Tudo acontece em meio aos ritmos dos atabaques e de cantorias ritmados, com características africanas, e criados especialmente para essas apresentações. As letras anunciam o que vai acontecer nas cenas.

É uma manifestação única, e se mantém desde o século XIX, originados dos escravos africanos e de origem Nagô. Provavelmente logo após a Abolição da Escravatura. Ao ouvir os sons dos atabaques as "Negas" dançam enquanto os caçadores cercam os fujões, girando em torno deles. São disparados vários tiros de espingarda, carregadas de espoletas. Quando as "Negas" são atingidas, eles caem e logo são amarrados pelos caçadores, que os obrigam a percorrerem as ruas do Acupe para pedir dinheiro para comprar suas cartas de alforria. Essa parte da dramatização se repete durante os primeiros domingos do mês de julho.

O desfecho final ocorre no ultimo domingo do mesmo mês, quando acontece a prisão do Rei. Esse ultimo ato, é travada uma grande batalha entre soldado e negros. Os caçadores se unem aos soldados, até conseguir capturar o Rei. Finalmente o Rei é preso, e obrigado a dar a carta de alforria, que é lida pelo Capitão do Mato. Após a leitura, dá início a uma grande festa de comemoração a abolição da escravatura.

Durante o mês de julho podemos apreciar também pelas ruas do Acupe os grupos de "Caretas", "Mândus", e "Bombachas". Essas manifestações não têm uma relação direta com a apresentação do "Nego Fugido", eles são um espetáculo a parte. O "Nego Fugido" não consta nos livros oficiais da historia do Brasil, mas o "Nego Fugido" é uma verdadeira aula de conhecimento e cultura de uma época tão importante para o povo brasileiro e principalmente para a comunidade do Acupe.

O "Nego Fugido" faz parte da memória cultural de Santo Amaro, e quase foi esquecido, pois ficou um tempo "adormecido", por não ter recursos para se apresentar. Hoje essa preciosidade é comandada por uma verdadeira guerreira, dona Edna Correia Bulcão, conhecida como dona Santa, a "Fada Madrinha" do "Nego Fugido". Ela assumiu a responsabilidade já há algumas décadas, quando herdou o amor pelo "Nego Fugido" de sua mãe, que sempre ajudava na festa. Com carinho e dedicação, ela ensina as crianças os segredos desse grandioso espetáculo. As dificuldades ainda existem para manter viva essa tradição, mas os integrantes e dona Santa lutam incansavelmente, pois o "Nego Fugido" é um tesouro, que tem que ser valorizado. Um tesouro que impressiona pela sua riqueza de detalhes.

O "Nego Fugido" revive o ideal de libertação e respeito desejados pelos escravos,

O "Nego Fugido" é cultura do Acupe!


Obra protegida por direitos autorais.


Referencias:
Evilacio Argôlo
Agnaldo Barreto



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9 Comentários:

Anônimo Comentou:

gostei muito do acupe do nego fugido.
é realmente uma obra incrivel!

Anônimo Comentou:

O CAPITÃO DO MATO, na região canavieira (recôncavo) não se vestia com chapéu e nem colete de couro, era chapéu de feltro ou de palha com abas grandes, para se proteger do sol, camisa de manga comprida, com armas de fogo cano longo segurando no peito. Os artefatos eram feito de palha, e não de couro, uma cultura da região do Sertão. conte a História dos negros, sem misturas e sem enfeite.

Felipe Argôlo - Administrador. Comentou:

Anônimo o seu comentário é fundamentado em quê? O texto ao qual os comentários fazem referência não trata deste assunto. As características desta manifestação cultural que acontece no recôncavo, em Acupe, a mais de um século, é estuda e admirada por diversos pesquisadores e estudantes nacionais e internacionais, e nada impede do "CAPITÃO DO MATO", naquela região fazer uso de trajes em couro. Fique a vontade para manifestar a sua opinião e nome, pois esse espaço é reservado para discussões em nível educado, e com certeza não haverá retaliações ao seu nome.

Unknown Comentou:

Boa resposta,

Unknown Comentou:

Boa resposta,

Paróquia Nossa Senhora da Soledade Comentou:

Sou Márcia Loures a mais nova componente deste grupo Nego Fugido, tenho apenas quatro anos, que faço parte , mas há anos que conheço a história do mesmo.Estou escrevendo para a senhora, pois tenho um convite a fazer.Nós do grupo estamos nos reerguendo e precisamos de pessoas que se identifique com o grupo, para juntos fazermos da nossa história, história do nosso antepassados,insubístituível e eterna.Vamos reerguer o nosso grupo com pessoas comprometidas com a nossa cultura, para melhor fazermos com que a nossa história,vença as fronteiras do preconceito e seja aceita, respeitada, aonde quer que formos.

Paróquia Nossa Senhora da Soledade Comentou:

PRECISAMOS DE APOIO DE PESSOAS PARA FAZER PARTE DO GRUPO, como fiscais, suplentes,etc.Para térmos uma direitoria compromitida , respeitosa para com a causa, referente ao grupo.

Unknown Comentou:

Boa tarde Marcia. Me chamo Lemilson. Me apaixonei pela história e pelo movimento. Como faço para fazer parte do grupo? Linpitero@hotmail.com - 988158603. Aguardo ansioso por uma resposta. Abraço.

blog do Pita Comentou:

Quem é voce pra contestar a cultura de um local completamente distante de Canavieiras?
Quem te disse é por que os capitães do mato de Acupe teriam que se vestir igual aos de Canavieiras???
Os carangueijos de Acupe não são iguais aos de Canavieiras.

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