Acupe - Mascarados e Caretas De Acupe | O Bom Do Acupe | Santo Amaro BA

Mascarados e Caretas De Acupe

70 ANOS DE CAETANO EMANUEL VIANA TELES VELOSO

Quando chega o tão aguardado mês de Julho, a Bahia e o recôncavo baiano se transformam para homenagear os heróis que tanto lutaram para que o nosso Brasil chegasse a sua autonomia política. Os principais municípios na homenagem são: Salvador, Cachoeira, Santo Amaro, São Francisco do Conde, além de outros. Todo o Estado festeja o 2 de Julho de 1823, data da retirada das tropas portuguesas da nossa jovem nação. 

No Distrito de Acupe, em Santo Amaro - BA, os centenários grupos folclóricos saem nos quatro domingos seguintes e a comunidade é invadida pela imprensa, turistas e estudiosos de vários Estados e do exterior, como EUA, Itália, Espanha, França e outros. 

Caretas do Mestre Celso. Anos70
Caretas do Mestre Celso. Anos70.
As Caretas de Acupe - os caretas eram vários grupos formados por pessoas da comunidade que saiam de diversas ruas no sentido “de brincar o dois de Julho”, com suas saias tipo baianas de folhas de bananeira. Tinham a cabeça recoberta com toalhas ou lençóis, que desciam até a cintura, com a máscara aterrorizante formando o conjunto. Levavam chocalhos presos na cintura, nas mãos usavam luvas e nos pés, botas ou sapatos velhos. O estalar dos manguás, tipo de chicote de couro de boi utilizado para açoitar animais e muito utilizado no Brasil colonial como instrumento de tortura aos escravos. Caminhavam como se o grupo estivesse à espreita. O som produzido pelas palhas das saias parece uma fritura ao fogo. 

Dividiam- se para terem acesso a uma rua ao mesmo instante por diversos becos, o que provocava pânico entre as crianças e idosos. Muitos urinavam nas calças ou corriam para se esconder, sendo perseguidos pelos Caretas sofrendo chicotadas nas pernas e sofrendo humilhações. Se o espectador não demonstrasse medo, eles apenas dramatizavam, seguindo adiante sem agressões, entre risos. O que o Careta não aceitava é que alguém conseguisse identificá-lo gritando alto o seu nome. 

Mestre Celso das Caretas contou- me que o Sr. Américo, que foi pintor e confeccionava Judas, foi quem lhe ensinou a fazer as máscaras artesanais. Mandava que seus alunos se dirigissem ao porto de baixo e recolhessem o barro branco chamado de tauá, que era levado ao seu ateliê, onde era trabalhado sobre uma base de frande ou madeira para formar o molde da futura máscara, que era levada ao sol e depois retornava ao ateliê onde recebia uma camada de sabão em pedra, onde em seguida começava a se colocar papéis e cola no sentido desejado, que após secar a máscara era retirada e começava a parte final com a pintura. A tinta era tabatinga na cor amarela. Usava- se o ocre de ferro para a cor vermelha. O pincel também era artesanal, feito das fibras da bananeira. Não se pintava com tinta óleo ou esmalte. A tinta artesanal não possuía boa aderência e as pessoas tinham que renovar a pintura, pois constantemente se melavam. 

Caretas de Acupe - Mestre Dodô
Caretas de Acupe - Mestre Dodô
Hoje só existe o grupo tradicional de Caretas de Acupe do Mestre Dodô. O Mestre Celso Batista se afastou da brincadeira, pois o Mestre Vaga-Lume começou a trazer máscaras de borracha que contaminou a juventude. Para Mestre Celso está se perdendo o fundamento da brincadeira, por isso acabou com o seu grupo. 

Em vários locais no recôncavo existem grupos de Caretas. Em Camaçari, as saias são confeccionadas com ramos de árvores. Em Saubara, são chamados de Caretas de Mingau, fala- se que as pessoas usavam as máscaras quando levavam alimentos para as tropas que estavam a defender aquela região, na época das lutas pela independência. Em Acupe, falava- se que se usavam as máscaras para despertar e assustar os europeus com o imaginário de que seres fantásticos habitavam as matas. 

Caretas de Borracha  - Mestre Vaga-Lume.
Caretas de Borracha  - Mestre Vaga-Lume.
Em uma pesquisa que fiz com um engenheiro, filho de Angola, falou- me que antes da revolução para a libertação deste país seu pai tinha várias fazendas. Ele contratava durante o período da colheita trabalhadores da etnia banto e que seu pai temia que ele tivesse contato com os mesmos, devido ao ritual de se fantasiarem com máscaras feitas com a casca de árvores e vestimentas de fibras vegetais. Seus enormes tambores e cantorias deixavam a todos assustados. No passado eles se escondiam nas florestas para chegarem fantasiados para o ritual. Os que eram facilmente reconhecidos poderiam ser condenados a morte. 

Outra pesquisa que fiz em referência aos Mucachos, ritual que é feito quando o menino banto está a alcançar a adolescência, onde toda a família se envolve numa grande cerimônia na qual o sacerdote retira da árvore sagrada as cascas e as fibras para confeccionarem as máscaras e as vestes para que eles não sejam reconhecidos. Durante o ritual todos os pertences dos jovens são recolhidos e colocados no centro da aldeia. Após a cerimônia seus objetos são incinerados simbolizando a passagem para a puberdade. 

As máscaras estão em todas as culturas humanas, simbolizando vários sentidos do imaginário do homem. O Mestre Celso Batista foi titulado como mestre aos 10 anos de idade, por ser auto didata, por seu Américo, que passou a recomenda-lo as pessoas que o procuravam para a confecção das mascaras.

Obra protegida por direitos autorais.


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2 Comentários:

Anônimo Comentou:

e muinto bom

Jorge Guerreiro Comentou:

Excelente pesquisa sobre essa cultura universal e que está em várias civilizações.

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